Moreno 85 anos: Significados e aprendizados dessa data.

Data: 11/09/2013 | Hora: 01:08 | Por: Romerito Arcoverde


Era uma tarde de comemorações na zona rural de Jaboatão. O Governador Herculano Bandeira, sua comitiva, autoridades regionais, centenas de futuros operários e os “Galegos” da Bélgica e da Inglaterra estavam reunidos num importante evento de inauguração daquela que seria a segunda maior empresa têxtil de Pernambuco, e uma das maiores do Brasil, na época: A Societé Cotonière Belge Bresilienne. Sob a visão do Diário de Pernambuco, em matéria de capa, de 13 de Maio de 1910 notamos o impacto do empreendimento têxtil na zona rural do município de Jaboatão:

Pernambuco Industrial
UMA GRANDE FABRICA
O antigo engenho Catende ao pé da estação de Moreno, no município de Jaboatão, está hoje se transformando em prospera povoação, com 450 casas e 58 em construção, tendo boa feira e regular comercio.

Está ali o inicio de uma cidade, avultando acima da casaria e da verdura da vegetação luxuriante, a alta chaminé vermelha da fabrica de tecidos, edificada pela Societé CotonnièreBelge- Brésilienne.

Foi essa fabrica que fez surgir, como por encanto a povoação de Nathan, realizando o milagre de todas as grandes empresas industriais que, onde aparecerem, formam logo um numeroso núcleo de povoação.

(...) O edifício da fabrica está concluído, ocupando uma área de 22.000 metros quadrados e os machinismos, que são os mais aperfeiçoados de fabricantes ingleses, suíços, belgas e holandeses, estão devidamente montados.

A vila Nathan nascia envolta da fábrica têxtil, esta que, como diversas empresas traziam um modelo de “cidades-empresas” escolhendo áreas rurais para implantar o seu parque industrial e toda estrutura urbana necessária para o desenvolvimento da localidade: a vila operária, os espaços públicos, a luz elétrica, os clubes, enfim, todas as necessidades daquela localidade rural. Mais isso não foi um privilégio da Societé, outras indústrias têxteis, no mesmo período construíram estruturas nesses parâmetros.

(...) proximos a pequenas cidades “vila operaria” da companhia Industrial Fiação e Tecidos Goyanna, na cidade de Goyanna; à da Fiação e Tecelagem de Timbaúba, em Timbaúba; à da companhia Industrial Pirapama, em Escada, e à do Cotonifício José Rufino, na cidade do Cabo. Os situados em meio rural: a vila da Companhia de Tecido Paulista, em Paulista; Societé Cotonnière Belge- Brésilienne, em Moreno e a da companhia industrial pernambucana, em Camaragibe. (CORREIA, 2001)

Era momento de novas perspectivas para centenas de famílias de todas as regiões do nosso Estado e até de outras localidades. Essas fábricas têxteis, sinônimos de progresso e emprego dos mais variados possíveis, desencadeia uma importante corrente de migração. Na Sociéte, na sua primeira década de funcionamento, centenas de famílias migram à vila Nathan, terra de trabalho e progresso:

No início de século XX, 1910, era o povoado Nathan alvo das mais entusiasmadas perspectivas de progresso. E logo, 18 anos após, o povoado se transforma em um município independente. Nascia a Cidade de Morenos, cidade industrial por excelência. O grande sucesso da Societé fez com que aquele espaço urbanizado- outrora engenho açucareiro Catende, mais um engenho entre tantos da zona rural de Jaboatão- tivesse força política para pleitear e angariar sua emancipação política. E em 11 de Setembro de 1928 era criado o município de Moreno.

A emancipação de nossa cidade tem que ser pensada por essa perspectiva, sem ela fica impossível vislumbrar a independência. Não estou promovendo um culto à Societé, mas, sem ela, certamente, não teríamos Moreno. Mais dados poderia discorrer aqui, ampliar a discussão, mas essa afirmativa baseada numa boa documentação nos possibilita pensar o contexto da nossa emancipação, pois, a emancipação passa pelo papel desempenhado pela Societé na política pernambucana.

É hora de ressignificar nosso passado para olhar mais atento nosso presente, pensar nas possibilidades à nossa frente. E aqui encaro o papel de um cidadão politizado pensando nossa cidade. E, sendo assim, esse pensar passa, necessariamente, por uma reflexão histórica. Eis ai uma utilidade dessa matéria que há muito não é mais de “decorar”.

Nessa linha de pensamento outras ideias surgem no 11 de Setembro de 2013: educação patrimonial, fortalecimento da identidade municipal, reconhecimento daqueles, que hoje de cabelos brancos e mãos calejadas, - ex-operários- como construtores da nossa cidade, pensarmos novas possibilidades segundo nosso contexto. Iniciemos uma visão mais alargada do passado nos servindo dos escritos do memorialista João Carneiro da Cunha e da educadora Sevi Rocha como ponto de partida para ressignificar o passado e promovermos uma atualização sistemática, baseados em pontos que esses não alcançaram.

No aniversário de nossa emancipação, lembremos a nossa origem, pensemos nas milhares de vidas que construíram nossa cidade: os operários têxteis. Ensejemos nosso passado de progresso para olharmos para um futuro que se desdobra com grandes possibilidades de avanços. Vamos ao desfile cívico em Bonança, comemoremos nossa emancipação, festejemos e atualizemos nossa participação cidadã na data mais importante do nosso município. Parabéns Moreno!
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